A caderneta reage

O bom rendimento da caderneta de poupança, principalmente se comparado ao dos Fundos de investimento que pagam imposto e cobram taxa de administração, foi responsável pela volta da captação positiva em maio. Segundo o Banco Central, a Poupança obteve R$ 1,881 bilhão, resultado de depósitos de R$ 78,839 bilhões e saques de R$ 76,959 bilhões. A captação líquida é diferença entre depósitos e saques.

Com a captação positiva de maio, a segunda do ano, a Poupança reverteu as perdas acumuladas em 2009. No período de cinco meses, a caderneta está positiva em R$ 356 milhões. Até abril, a Poupança acumulava captação líquida negativa de R$ 1,523 bilhão. O saldo de maio, que equivale a todos os depósitos feitos pelos poupadores mais os rendimentos aplicados sobre as contas, superou R$ 278,56 bilhões.

Para o Economista Demétrius Borel Lucindo, da Top Trade Investimentos, contribuiu para diminuir os saques na Poupança uma decisão do governo. "As medidas para taxar a Poupança a partir de 2010 foram adequadas, sem terrorismo", avaliou. O governo anunciou que as cadernetas com saldo acima de R$ 50 mil vão passar a pagar Imposto de renda no caso de a taxa Selic ficar muito baixa. Caso o governo tivesse tomado uma medida imediatista, o resultado poderia ser muito diferente, na opinião do economista. Para valer, a proposta ainda tem que ser aprovada pelo Congresso Nacional.

Apetite

Também contribuiu para a captação da caderneta ficar positiva o fim dos gastos adicionais de início de ano. Como a maioria dos poupadores têm poucos recursos guardados, eles servem muitas vezes para complementar a renda, que é deslocada para despesas como pagamento de matrícula e material escolar e impostos, típicos do começo do ano. "Certamente, teve saques para pagamento de dívidas e outros compromissos", disse o Economista Otávio Vaz, da Global Equity.

Os dois economistas garantem que o apetite dos investidores pelas aplicações, principalmente as que envolvem risco, como as ações na Bolsa, está voltando. "O dinheiro está fluindo mais e migrando de uma aplicação para outra, sempre em busca de rentabilidade", disse Demétrius. Para ele, está sendo restaurada, aos poucos, a credibilidade do sistema financeiro. No ano passado, com a crise, muitos investidores perderam dinheiro e fugiram. Agora, com os juros baixíssimos pelo mundo afora, também os estrangeiros estão vendo no Brasil uma oportunidade de negócios.

De acordo com os dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), a captação em Fundos de investimento foi negativa no mês de maio em R$ 412 milhões. No último dia útil do mês, incide o sistema come-cotas , que é quando as administradoras cobram as taxas dos seus investidores. Foram R$ 2,7 bilhões. No ano, a captação em fundos está positiva em R$ 30,6 bilhões, com o saldo acumulado superior a R$ 1,24 trilhão.

Estrangeiro tributado

O secretário extraordinário de Reformas Econômico-Fiscais do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, afirmou que o projeto de lei que define a tributação da Caderneta de poupança está pronto e só tem uma diferença em relação ao que foi anunciado em 13 de maio: os Investimentos estrangeiros na caderneta terão tributação exclusiva na fonte, a uma alíquota de 22,5% e sem o limite de isenção de R$ 50 mil. Mas o tamanho da mordida tributária dependerá, como no caso dos aplicadores nacionais, da magnitude da queda na Selic. É que a base de incidência do imposto vai variar, conforme o projeto, de acordo com o tamanho da Selic. Quanto mais baixa a taxa de juros, maior a base de incidência do imposto.

Segundo Appy, a medida é necessária porque os estrangeiros não fazem declaração de ajuste anual no Brasil. Pelo sistema anunciado em maio, a tributação da caderneta será feita somente na declaração de ajuste anual. Sem isso, não haveria como tributar os estrangeiros. Appy explicou que a modificação não terá grande impacto porque há poucos investidores estrangeiros na poupança. O secretário disse ainda que o envio do projeto e seu formato (se projeto de lei ou medida provisória) depende da avaliação política. Por isso, ele evitou antecipar quando a proposta será remetida ao Congresso.

Appy não quis antecipar quando a medida provisória que alivia a tributação dos Fundos de investimento será enviada ao Congresso. Segundo ele, a MP depende da ocorrência de uma migração em massa de recursos dos fundos para a poupança, o que não ocorreu. "Sequer tenho certeza de que este movimento vai ocorrer. Mas nós temos a preocupação com a possibilidade de isso ocorrer em um ambiente de juros baixos", afirmou. Ele avaliou que a captação líquida positiva de R$ 1,88 bilhão na caderneta em maio não é um indicativo de migração maciça.

Bolsa e dólar invertem movimento

A forte correção (queda por meio de venda de ações) de quarta-feira abriu espaço para a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) retomar a trajetória de alta ontem, garantida pelos indicadores que deram fôlego às bolsas norte-americanas. O Ministério do Trabalho dos Estados Unidos informou uma queda de 4 mil nos pedidos iniciais de auxílio-desemprego, ante 3 mil previstos, e, melhor do que isso, o total de pessoas que recebiam auxílio-desemprego caiu 15 mil, para 6,735 milhões - o primeiro declínio desde 3 de janeiro. Ou seja, os dados do mercado de trabalho começam a esboçar alguma reação, mas ainda são frágeis.

Também agradou aos investidores a produtividade da mão de obra no primeiro trimestre, que foi revisada de +0,8% para +1,6%, acima das previsões de +1,2%. Diante disso, a Bovespa subiu 2,64%, acumulando alta de 0,5% este mês e de 42,38% em 2009. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, terminou em alta de 0,86%.

O dólar foi reconduzido à trajetória de queda, após rápida realização de lucros, que amparou alta de pouco mais de 2% na quarta-feira. Ontem, a Moeda no Mercado à vista caiu 1,07%, para R$ 1,94. Neste mês, a perda acumulada é de 1,42% e, no ano, de 16,83%. A retomada do recuo na sessão acompanhou em parte a desvalorização externa da Moeda norte-americana em meio à migração de investidores para os segmentos de Commodities e ações.